25 avr. 2007

Et pendant ce temps, vu du Portugal...

Presidenciais francesas: a 2ª volta do tratado?

Vejamos como José Manuel Fernandes analisa as eleições francesas no seu Editorial de hoje no Público: "Alívio: o resultado mais importante das eleições francesas de ontem foi a derrota relativa de Le Pen. A temida surpresa não se concretizou. A "normalidade" regressou, o que também passou pela redução à expressão mínima da votação nos partidos da extrema-esquerda. O voto de protesto ou o voto anti-sistema ficou muito aquém do que sucedera em 2002, o que em si mesmo é um bom sinal - um sinal de bom senso depois desse choque e do "não" no referendo europeu."
É claro que a derrota de Le Pen foi um alívio. Um enorme alívio. Mas na realidade já era mais previsível do que a surpresa de 2002. Todas as sondagens apontavam para essa descida. Que se deveu a (pelo menos) dois factores em simultâneo: um aumento muito substantivo da percentagem de votantes (85% vs os 72% na 1ª volta de 2002), mas também a uma clara absorção por Sarkozy de parte do discurso que tinha dado essa expressão eleitoral a Le Pen em 2002. Uma parte significativa do eleitorado de Le Pen reconheceu-se em pleno nessa direita musculada que chamou de "escumalha" os habitantes do subúrbio de Argenteuil na crise das periferias em Novembro de 2005. Le Pen perdeu cerca de um milhão de votos em relação a 2002.

Mas o que regozija José Manuel Fernandes é também que a "normalidade" se tenha instalado, ou seja, que Sarkozy e Ségolène tenham tido, em conjunto, 57% do eleitorado, enquanto que, em 2002, Chirac e Jospin apenas tinham conseguido alcançar 36%.

É verdade que, em conjunto, os votos à esquerda do PS desceram em relação a 2002. O PCF tem um resultado de menos de 2%, o mais baixo de sempre. Apenas Olivier Besancenot sobe significativamente, tendo conquistado quase mais 300.000 votos que em 2002. É claro que houve um "voto útil" massivo em Ségolène, não só por causa do susto de 2002, em que o candidato do PS, Jospin, não foi à 2ª volta, como também porque Ségolène, embora defensora das políticas neoliberais, aparece também como uma nova oportunidade, menos comprometida com o PS do passado, com as suas rotinas e os seus escândalos de governação ou de presidência.

Mas quer José Manuel Fernandes queira ou não, estas eleições presidenciais não eram exactamente um novo referendo europeu. Ou seja, o resultado do referendo de 2005 não pode ser esquecido e varrido pelo facto de ontem terem passado à 2ª volta dois candidatos defensores do Tratado. O que estas eleições também demonstram é que a esquerda social e a esquerda política podem ter expressões diferentes: é certo e seguro que votaram em Ségolène muitos e muitas dos que, em 2005, tinham dito "não" ao neoliberalismo plasmado no tratado constitucional.

Parece difícil de acreditar que o discurso ziguezagueante proferido ontem à noite por Ségolène a possa levar à vitória. No entanto, é essencial derrotar Sarkozy a 6 de Maio.

Neste país chave da construção europeia, que há cerca de 2 anos derrotou nas urnas o tratado constitucional redigido por Giscard d' Estaing, o candidato Sarkozy sugere que se reescreva uma nova versão (mini), do Tratado que possa dispensar o seu referendo; ao contrário, Ségolène promete uma nova consulta popular no caso de ganhar as eleições. Nos próximos anos, o futuro da construção europeia também vai passar por aqui.

Alda Sousa

Dirigente do Bloco de Esquerda

in Esquerda.net (http://www.esquerda.net/index.php?option=com_content&task=view&id=2598&Itemid=46)

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