Un lieu de résistance à la marchandisation du monde et d'immenses saudades de l'Algarve
23 févr. 2007
Gracinha alentejana
Não Canse a Bichinha...
Um jovem Médico, abriu um consultório numa pequena aldeia alentejana, onde só havia velhos.
No primeiro dia, começou por atender o Ti Augusto e aproveitou p'ra perguntar:
- Então Ti Augusto, aqui na terra não há meninas ?
- Aqui na há nada! Só se for às Sêxtas-Fêras com a Égua!- respondeu o Ti Augusto.
Passado algum tempo, já o Médico andava a ganir de desejo, quando o Ti Augusto voltou à consulta:
- Então homem, hoje é Sexta-Feira, como é que é isso da Égua?
- Sendo 3 da tardi, o sôdoutori venha ter comigo à Bêra do riacho.
Quando lá chegou, encontrou uma fila enorme de homens, mas ele como era Médico, toda gente o deixou passar à frente. Quando viu a Égua, o médico esqueceu os preconceitos e libertando o desejo reprimido, baixou as calças e montou-se no animal.
Ao fim de alguns minutos de relação, o Ti Augusto chega-se ao pé do Médico e diz:
- Sôdoutori, ê na queria interrompêri, mas na canse a bichinha, porque ela é que nos vai levari p'ro outro lado do riacho, onde estão as mocinhas!!
Merci à Alberto Matos de Radio Pax de Beja.
Os alentejanos são os primeiros a rir de si próprios...
O Alentejo e as suas gentes estão no meu coração!
José Afonso
José Afonso, 2 de Agosto de 1929 - 23 de Fevereiro de 1987
Zeca, 20 ans après, tu nous manques... Nous avons besoin de ta voix et de ta guitarre, pour défendre notre cause, celle du peuple, celle des humbles... Car aujourd'hui, ABRIL semble oublié des gouvernants portugais et de beaucoup de nos compatriotes... Nous vivons un autre temps, celui de l'impérialisme boursier, du capital et des actionnaires... Qui pourtant n'a pas beaucoup de différences avec le totalitarisme qui t'a emprisonné à Caxias, en d'autres temps...
C'est le même mépris de l'humain, la même Loi du plus puissant, de ceux qui possèdent l'argent, les armes et le contrôle des moyens de communication...
Et toi, Zeca, oublié des gouvernants et du peuple globalisé, les tiens combattants de l'Utopie, ne t'oublient pas et ne t'ont jamais renié...
..."Abril renasce de cada vez que tu cantas,
mesmo que já não cantes,
mesmo que, para ti, a morte
tenha também saído à rua
num dia assim, num Fevereiro distante e
triste
que reduziu a matéria dos sonhos
à cinza fria das nossas mais fundas mágoas."
José Jorge Letria, in Carta a Zeca Afonso, garrido editores, 2002
21 févr. 2007
Le livre du mois
La Mémoire et le Feu. Portugal, l’envers du décor de l’Euroland
Jorge Valadas
Plus connu sous son nom de plume habituel de Charles Reeve, Jorge Valadas nous fait partager, avec ces chroniques lusitaniennes, sa critique acérée de l’« envers du décor » portugais. Il rappelle le terreau anarcho-communiste et les violentes révoltes du début du XXe siècle, occultées par la longue nuit de la dictature salazariste. Elles resurgirent lors de la « révolution des œillets » de 1974, rapidement confisquée toutefois par le parti communiste. Il décrypte ensuite la vie sociale du nouveau Portugal démocratique où triomphe l’« individualisme moderne du citoyen consommateur de marchandises ». L’ouvrage met aussi en lumière la recherche du profit sans limites des « nouveaux conquistadores » sur fond de désertification tant humaine (cinq millions d’émigrés, précarisation) que naturelle (incendies récurrents, « sahélisation » de pans entiers du territoire). Mais tout n’est pas perdu pour autant, et l’auteur pointe ici ou là « des signes et des traces de l’utopie sociale ensevelis sous le béton et le crédit ».
Jean-Jacques Gandini.
L’Insomniaque, Montreuil, 2006, 128 pages, 10 euros.
in Le Monde Diplomatique, février 2007
Jorge Valadas
Plus connu sous son nom de plume habituel de Charles Reeve, Jorge Valadas nous fait partager, avec ces chroniques lusitaniennes, sa critique acérée de l’« envers du décor » portugais. Il rappelle le terreau anarcho-communiste et les violentes révoltes du début du XXe siècle, occultées par la longue nuit de la dictature salazariste. Elles resurgirent lors de la « révolution des œillets » de 1974, rapidement confisquée toutefois par le parti communiste. Il décrypte ensuite la vie sociale du nouveau Portugal démocratique où triomphe l’« individualisme moderne du citoyen consommateur de marchandises ». L’ouvrage met aussi en lumière la recherche du profit sans limites des « nouveaux conquistadores » sur fond de désertification tant humaine (cinq millions d’émigrés, précarisation) que naturelle (incendies récurrents, « sahélisation » de pans entiers du territoire). Mais tout n’est pas perdu pour autant, et l’auteur pointe ici ou là « des signes et des traces de l’utopie sociale ensevelis sous le béton et le crédit ».
Jean-Jacques Gandini.
L’Insomniaque, Montreuil, 2006, 128 pages, 10 euros.
in Le Monde Diplomatique, février 2007
Carnaval da Madeira
O Alberto João Jardim está a fazer um jogo político sujo, como sempre o fez desde há 25 anos na Madeira, ao demitir-se para ter a possibilidade de continuar até 2111 no poder.
O défice de democracia na Madeira é da sua inteira responsabilidade.
E não será deveras um nojo, ver tanto dinheiro gasto na Madeira em Carnaval e fogos de artifício, quando a maioria do país tem de apertar o cinto?
Quererá o potentado carnavalesco a independência da Madeira?
Está-se a esquecer que o arquipélago é uma parte indivisível de Portugal.
E o Alberto João tem de se sujeitar ás leis da República portuguesa.
O que não consigo compreender, é como os madeirenses o continuam a apoiar, e como tantos portugueses do continente aplaudem esta palhaçada.
Que espera o Governo português para meter fim a esta fita de mau gosto que já nem o Le Pen faz em França?
19 févr. 2007
Cartes postales reçues
Consulados portugueses, qual será a resposta do Governo?
As associações e os emigrantes portugueses no estrangeiro continuam mobilizados contra o encerramento dos consulados...
Os partidos nacionais não parecem estar muito mobilizados para defender os interesses
da emigração portuguesa.
Haverá populismo no empenhamento das associações, e tentativa de recuperação política da parte do PSD, que iniciou em tempos este abandono das suas comunidades no estrangeiro?
Domingo 4 de Março de 2007, o colectivo de defesa do consulado de Orléans e dos direitos dos portugueses, organiza uma manifestação em frente da catedral desta cidade.
Este fim de semana, a manifestação de Tours foi bastante seguida...
Relembrando Zeca
17 févr. 2007
Politique people et populisme
Les soutiens "people" de Sarko sont-ils des boulets tels, qu'ils pourraient lui coûter l'élection présidentielle? Voyez le panel: Doc Gynéco, Johny, Pascal Sevran, Steevie Boulay (ex du Loft), Roger Hanin (Beau-frère de François Mitterand), et j'en passe...
Démocratie, où vas-tu?
D'un autre côté, toutes les émissions de variétés françaises ("Vivement Dimanche" de Drucker, "On a tout essayé" de Ruquier...) se mettent à faire de l'analyse politique, avec des chroniqueurs qui ne représentent qu'eux-mêmes, et qui ont autant d'analyse qu'un hamburger de chez Mac Do..
Démocratie, quelles conneries fait-on aujourd'hui en ton nom?...
Alain Duhamel s'est fait mettre au placard du service public, pour avoir dit qu'il soutiendrait François Bayrou à l'élection présidentielle... Cela nous rappelle Elkabach.
Ce qu'a dit Duhamel, est-ce aussi dangereux pour la démocratie que faire de la politique dans des émissions de variétés?
Démocratie, comment croire encore en toi?...
14 févr. 2007
Portugal entrou no século XXl
Abril em Fevereiro…
Na madrugada de 11 para 12 de Fevereiro, no rescaldo da vitória do SIM, perguntava-me uma jovem, via Internet: “Foi assim que viveste o 25 de Abril”? Ultrapassado o efeito surpresa da pergunta, lá respondi que a situação era muito diferente, não havia propriamente uma guerra nem uma revolução, etc.… E, depois de alguns “argumentos racionais”, concluí: “Sim, o que tu estás a sentir deve ser muito parecido com o que a minha geração viveu no 25 de Abril”. Manuel Damásio explicará melhor as conexões entre razão e emoção mas, para boa parte dos “filhos da revolução”, nascidos a partir da segunda metade da década de 70, este 11 de Fevereiro foi “o seu 25 de Abril”. E, convenhamos, para muitos “kotas” como eu, este é uma espécie de “segundo 25 de Abril” – pelo menos no sentido da entrada de Portugal na modernidade do século XXI.
A vitória política do SIM no referendo é inquestionável. Valeu a pena a paciência democrática de oito anos de espera pela “segunda volta” do referendo de 1998. E não foi fácil, exigiu muito esforço e perseverança. Recordo o movimento cívico que, em 2004, apresentou à Assembleia da República uma petição com mais de 125 mil assinaturas por um novo referendo, ignorada por uma maioria em que pontificavam Durão Barroso, Paulo Portas, Marques Mendes e Bagão Félix. Eles tinham todas as razões para temer o referendo, como agora ficou demonstrado. E, se não atingimos ainda os 50% de participação que o tornariam formalmente vinculativo, a abstenção recuou 12 pontos e o quase “empate técnico” de 1998 deu lugar a uma vantagem de mais de 18% para o SIM!
O parlamento tem inquestionável legitimidade política para legislar no cumprimento da vontade expressa do eleitorado: “a despenalização da IVG, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado”. E não é despiciendo que esta legitimidade tenha sido confirmada nas urnas. Ao ouvir alguns assanhados partidários do NÃO, na noite da derrota, pressentia-se a saudade dos “velhos tempos” de Salazar, quando a abstenção foi contabilizada como um voto a favor da Constituição de 1933… Felizmente não são essas as regras da democracia, cujos riscos valem sempre a pena e cujos custos só podem ser contabilizados como benefícios. É que se o parlamento alterasse a lei sem novo referendo, não faltariam os cortejos e as romarias por esse país fora. Assim, ficam as lamentações…
É verdade, no que toca à reparação das injustiças contra as mulheres e no apoio à maternidade, consciente, que há muito por fazer. Mas, a partir de agora, abrem-se novos horizontes, a começar por uma lei justa que quebre o isolamento da mulher no momento da sua decisão mais difícil e almeje a redução drástica do aborto clandestino. Um novo impulso ao planeamento familiar só pode começar por uma educação sexual informada e desinibida nas escolas – a clandestinidade e o sentimento de culpa são sempre os piores conselheiros, nesta como noutras áreas.
A vitória do SIM tem ainda outro significado profundo: a afirmação dos valores da República e do Estado laico, o princípio da separação das Igrejas do Estado que é vital para a própria liberdade de todos os cultos e da propaganda religiosa ou anti-religiosa. Isto é, o Estado democrático não pode nem deve conformar-se ou acolher uma particular concepção ético-religiosa e dar-lhe força de lei, como acontecia até hoje com a questão do aborto em Portugal. E é justo salientar o contributo de muitos católicos nesta decisão histórica do povo português, ao recusarem o condicionamento da sua consciência por uma hierarquia retrógrada: além das ameaças de excomunhão de alguns bispos, o próprio Papa – SS Ratzinger – chegou ao desplante de equiparar aborto e terrorismo. Só por pudor ou alguns telhados de vidro não terá falado no Holocausto, como o Bispo de Bragança em 1998…
Saúdo as vozes corajosas de leigos e membros do clero em defesa do SIM, da tolerância e da dignidade das mulheres, tratadas como cidadãs de segunda classe pela hierarquia – quando é que acabará a expiação do “pecado original”? Não é assunto que me toque particularmente, mas alarga-se o conflito entre uma Igreja que opte por calçar “as sandálias do pescador” e a sua hierarquia, comodamente instalada no trono de Roma – o mesmo que lançava o povo cristão ás feras!
Por último, uma saudação muito especial a todas e a todos os que integraram e/ou subscreveram a plataforma “BEJA pelo SIM”, aberta do primeiro ao último dia, sem nenhuma discriminação. Podem orgulhar-se do seu contributo cívico para a expressiva vitória do SIM no nosso distrito.
Alberto Matos – Crónica semanal na Rádio Pax – 13/02/2007
Na madrugada de 11 para 12 de Fevereiro, no rescaldo da vitória do SIM, perguntava-me uma jovem, via Internet: “Foi assim que viveste o 25 de Abril”? Ultrapassado o efeito surpresa da pergunta, lá respondi que a situação era muito diferente, não havia propriamente uma guerra nem uma revolução, etc.… E, depois de alguns “argumentos racionais”, concluí: “Sim, o que tu estás a sentir deve ser muito parecido com o que a minha geração viveu no 25 de Abril”. Manuel Damásio explicará melhor as conexões entre razão e emoção mas, para boa parte dos “filhos da revolução”, nascidos a partir da segunda metade da década de 70, este 11 de Fevereiro foi “o seu 25 de Abril”. E, convenhamos, para muitos “kotas” como eu, este é uma espécie de “segundo 25 de Abril” – pelo menos no sentido da entrada de Portugal na modernidade do século XXI.
A vitória política do SIM no referendo é inquestionável. Valeu a pena a paciência democrática de oito anos de espera pela “segunda volta” do referendo de 1998. E não foi fácil, exigiu muito esforço e perseverança. Recordo o movimento cívico que, em 2004, apresentou à Assembleia da República uma petição com mais de 125 mil assinaturas por um novo referendo, ignorada por uma maioria em que pontificavam Durão Barroso, Paulo Portas, Marques Mendes e Bagão Félix. Eles tinham todas as razões para temer o referendo, como agora ficou demonstrado. E, se não atingimos ainda os 50% de participação que o tornariam formalmente vinculativo, a abstenção recuou 12 pontos e o quase “empate técnico” de 1998 deu lugar a uma vantagem de mais de 18% para o SIM!
O parlamento tem inquestionável legitimidade política para legislar no cumprimento da vontade expressa do eleitorado: “a despenalização da IVG, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado”. E não é despiciendo que esta legitimidade tenha sido confirmada nas urnas. Ao ouvir alguns assanhados partidários do NÃO, na noite da derrota, pressentia-se a saudade dos “velhos tempos” de Salazar, quando a abstenção foi contabilizada como um voto a favor da Constituição de 1933… Felizmente não são essas as regras da democracia, cujos riscos valem sempre a pena e cujos custos só podem ser contabilizados como benefícios. É que se o parlamento alterasse a lei sem novo referendo, não faltariam os cortejos e as romarias por esse país fora. Assim, ficam as lamentações…
É verdade, no que toca à reparação das injustiças contra as mulheres e no apoio à maternidade, consciente, que há muito por fazer. Mas, a partir de agora, abrem-se novos horizontes, a começar por uma lei justa que quebre o isolamento da mulher no momento da sua decisão mais difícil e almeje a redução drástica do aborto clandestino. Um novo impulso ao planeamento familiar só pode começar por uma educação sexual informada e desinibida nas escolas – a clandestinidade e o sentimento de culpa são sempre os piores conselheiros, nesta como noutras áreas.
A vitória do SIM tem ainda outro significado profundo: a afirmação dos valores da República e do Estado laico, o princípio da separação das Igrejas do Estado que é vital para a própria liberdade de todos os cultos e da propaganda religiosa ou anti-religiosa. Isto é, o Estado democrático não pode nem deve conformar-se ou acolher uma particular concepção ético-religiosa e dar-lhe força de lei, como acontecia até hoje com a questão do aborto em Portugal. E é justo salientar o contributo de muitos católicos nesta decisão histórica do povo português, ao recusarem o condicionamento da sua consciência por uma hierarquia retrógrada: além das ameaças de excomunhão de alguns bispos, o próprio Papa – SS Ratzinger – chegou ao desplante de equiparar aborto e terrorismo. Só por pudor ou alguns telhados de vidro não terá falado no Holocausto, como o Bispo de Bragança em 1998…
Saúdo as vozes corajosas de leigos e membros do clero em defesa do SIM, da tolerância e da dignidade das mulheres, tratadas como cidadãs de segunda classe pela hierarquia – quando é que acabará a expiação do “pecado original”? Não é assunto que me toque particularmente, mas alarga-se o conflito entre uma Igreja que opte por calçar “as sandálias do pescador” e a sua hierarquia, comodamente instalada no trono de Roma – o mesmo que lançava o povo cristão ás feras!
Por último, uma saudação muito especial a todas e a todos os que integraram e/ou subscreveram a plataforma “BEJA pelo SIM”, aberta do primeiro ao último dia, sem nenhuma discriminação. Podem orgulhar-se do seu contributo cívico para a expressiva vitória do SIM no nosso distrito.
Alberto Matos – Crónica semanal na Rádio Pax – 13/02/2007
11 févr. 2007
10 févr. 2007
A história da emigração portuguesa em França
Há aqui o projecto de uma projecção-debate com o realizador português José Vieira acerca do seu filme "La photo déchirée" no dia 24 de março de 2007.
O debate procurará fazer a ligação entre a emigração portuguesa da época e os problemas de hoje, na "Europa Fortaleza".
Convites serão feitos por escrito na comunidade portuguesa e assim como nas outras comunidades da região de Orléans.
Está na hora de dizer SIM...
Hora H
Ao fim de uma semana de campanha e a cinco dias do Referendo sobre a despenalização do aborto, já é possível fazer um balanço. A primeira constatação é que muita coisa mudou nestes oito anos e meio: o NÃO vencedor em 1998, por uma estreita margem, carrega às costas um pesado fardo que bem tenta alijar, mas sem êxito. Na nossa memória colectiva estão as imagens dos julgamentos de mulheres na Maia, em Setúbal, em Aveiro, em Lisboa… Eis o resultado inevitável da actual lei que investiga, devassa, julga e criminaliza as mulheres vítimas de aborto clandestino com uma pena de prisão até três anos, segundo o artigo 140.º do Código Penal. Os que hoje querem que tudo fique na mesma são os mesmos que em 1998 MENTIRAM com todos os dentes quando garantiram que mais nenhuma mulher seria julgada – e uma mentira com dolo, pois sabiam que nada podiam prometer.
Hoje, vendo que o povo português abomina estes julgamentos que nos colocam na cauda da Europa, vêm com falinhas mansas repetir a mesma mentira. Primeiro foi o prestidigitador Marcelo no site “Assim Não”: em causa não estaria a despenalização do aborto, mas sim a sua liberalização. Dele tratou, de forma exemplar, Ricardo Araújo Pereira na rábula do “Gato Fedorento”. Pergunta a menina de Cascais: “O aborto é uma coisa extremamente horrível, não é, professor? É! E devia ser proibido? Exacto! Mas eu poderia fazê-lo? Podia! E o que é que me acontecia? Nada!”.
À boleia de Marcelo vem, no último fim-de-semana, Marques Mendes prometer uma alteração ao Código Penal, desde que o NÂO ganhe… “Ganda nóia!” Só que o PSD foi governo durante três anos e nada fez para reduzir as penas e, menos ainda, para evitar os julgamentos de mulheres. Pior: em 2005, com o CDS, votaram contra uma petição de mais de 120 mil cidadãos que solicitava a realização de um novo referendo sobre o aborto. Ou sejam: querem que tudo fique como está!
Na mesma onda de uma pseudo despenalização, um novel intelectual português, recentemente doutorado em Navarra, declarava ao “Expresso” de 27 de Janeiro: “O aborto deve ser um crime sem pena. É um problema de consciência. Sou pela despenalização, mas há que reprovar a sua prática.” Adivinhe quem é o autor: já morou em Belém mas regressou á Madre de Deus. Exactamente: Ramalho Eanes. Crime sem pena? Julgará o senhor general que vive numa república das bananas? A coisa soava mais autêntica quando o homem das patilhas ainda usava óculos escuros…
Na mesma linha, as deputadas independentes do PS, propõem que não haja pena de prisão efectiva, desde que a mulher se confesse criminosa e peça perdão á sociedade; nesse caso, a prisão poderia ser substituída por uma espécie castigo de “serviço social”. Ainda me consigo espantar com esta proposta, vinda de mulheres inteligentes e supostamente caridosas, como Maria Rosário Carneiro: querem impor uma penitência à mulher, confundindo o Estado com o Templo! Deviam reflectir nas palavras de Jesus Cristo: “A César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.
Infelizmente, continuam a encarar-se a si próprias com o complexo das “filhas de Eva” – a primeira pecadora – e desconfiam do livre arbítrio da mulher que só pode trazer “perturbação” à sociedade. A que distância ficam do artigo notável de Frei Bento Domingues “Por opção da mulher”: “Para os cristãos, esta desconfiança em relação às mulheres deveria ser insuportável. Não foram as mulheres que testemunharam que Jesus estava vivo, quando os Apóstolos já tinham concluído que estava tudo acabado? Não foi Maria Madalena a escolhida, por Jesus para evangelizar os Apóstolos?”.
Basta de hipocrisia! Quase prefiro a franqueza de um Fernando Santos ou de um Gentil Martins que defendem que uma mulher, mesmo vítima de violação ou transportando uma malformação do feto, deve ser obrigada a carregar a gravidez até ao fim! E condenada a pena de prisão, pois claro, se ousar interrompê-la. Há uns séculos, iriam para a fogueira. Hoje, podem dar-se por satisfeitas por irem parar às Mónicas ou a Custóias… Mas essa ameaça só pode ser definitivamente varrida com a vitória do SIM no próximo dia 11 de Fevereiro.
Em julgamento vão estar também a ausência duma verdadeira política de planeamento familiar e de uma educação sexual realista e desinibida. No banco dos réus, entre outros, estão Mariana Cascais e Bagão Félix, o ministro mais anti-social desde o 25 de Abril e que hoje chora lágrimas de crocodilo pelos gastos com a despenalização do aborto… O povo não pode desperdiçar esta oportunidade soberana para varrer as réstias do Portugal salazarento que alguns tentam ressuscitar.
Alberto Matos – Crónica semanal na Rádio Pax – 06/02/2007
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