Os mais recentes acontecimentos políticos na França, Polónia e Estónia, sendo entre si distintos, obedecem a uma mesma tendência forte: as direitas puras e duras esticam a corda e as políticas, no espaço da União, "nacionalizam-se".
Sarkozy venceu apropriando-se de todos os temas fortes da extrema-direita francesa. Desde logo, a imigração. Mas também a afirmação de uma ideia de nação forte, capaz de se proteger do mundo envolvente e de nele desempenhar um lugar central, à medida das glórias perdidas. Formalmente, Sarkozy é um herdeiro do general De Gaulle. Mas pouco tem a ver com ele. De Gaulle via a soberania francesa no contexto da afirmação de um projecto europeu independente dos Estados Unidos. Sarkozy, pelo contrário, é o mais atlantista dos presidentes franceses e olha para a Europa do estrito ponto de vista dos interesses da burguesia francesa. Para De Gaulle, a ideia de Estado forte envolvia poder nuclear, mas também uma dose estratégica de capitalismo de Estado. Sarkozy, diversamente, é uma mistura explosiva de neo-liberalismo com proteccionismo. Em rigor, o seu discurso não é novidade. Nos países bálticos, na Polónia ou na república checa, este cocktail tem sido ensaiado sem sofisticações. Na Europa, os governos destes países actuam como quintas colunas de Washington e como postos avançados do liberalismo económico mais selvagem.
Adivinham-se tempos difíceis. Invocando o "perigo iraniano", a Casa Branca quer instalar um sistema anti-míssil na Polónia e na república checa. Os governos do báltico querem igualmente novos meios militares. Putin, não sem bons argumentos, vê esta escalada como uma ameaça ao seu país. Até ao momento, a Europa hesitava ante a mais recente intromissão norte-americana. A vitória de Sarkozy faz pender a balança para o partido da força.
Outra consequência da nova relação de forças adivinha-se na discussão do Tratado. Com Sarkozy, os eurocratas de recorte federalista arquivam os seus sonhos. A 6 de Maio, ressuscitou a Europa do Directório, ou seja, a ideia de Europa como mera união de interesses e conveniências entre grandes Estados dotados de uma imensa periferia de pequenos mercados. O que, convenhamos, não é grande espingarda para o nosso país...
Miguel Portas
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