O regresso do Rock Rendez Vous
O mais mítico dos palcos do rock português está de volta com a mesma missão: promover novas bandas. O émulo lusitano do Filmore East ou do Marquee renasce agora em formato virtual. Vinte e sete anos depois, celebrados este mês.
O avatar diante de mim, vestido com a clássica t-shirt do Rock Rendez Vous, é Tpglourenco Forcella, um habitante de Second Life que criou em Portucalis uma loja para vender a imagem de Portugal, continua a sonhar com outros projectos na área da comunicação entre pessoas e, entretanto, criou dentro de SL uma reprodução do Rock Rendez Vous.Para quem não sabe ou já esqueceu, o Rock Rendez Vous (ou RRV) foi um dos melhores locais da noite lisboeta na década de 80 e até meados de 90. Ocupando o edifício do antigo cinema Universal na rua da Beneficência, ao Rego, abriu oficialmente a 18 de Dezembro de 1980, com Rui Veloso. Foi há 27 anos...Encerrado em 1983 por causa do barulho, mas reaberto no seguimento de uma petição, recebeu em 1984 o 1º concurso de Música Moderna, que se estenderia por sete edições, de 1984 a 1989, e de novo em 1994. Foi o primeiro palco a sério para muitas bandas portuguesas ou o local de eleição de outras, dos Gene Loves Jezebel aos Mler If Dada ou... Mão Morta! Os Xutos e Pontapés deram uma trintena de concertos ali, batendo o recorde não oficial da sala. Os Heróis do Mar, Anamar ou Sétima Legião são nomes de uma imensa lista de gente que subiu ao palco do RRV para mostrar o que sabia. E bandas estrangeiras de passagem por Lisboa encheram de som as velhas paredes: Teardrop Explodes, Killing Joke, Danse Society, Raincoats ou The Lords of the New Church.Promoção de bandas. Em Julho de 1990 o RRV fechou as portas, depois de dois dias de leilão. Nos dias 26 e 27 de Julho foi exposto para venda todo o equipamento de animação e peças de decoração do clube, pondo um ponto final na história de um lugar da cidade que merecia ter sido preservado. Felizmente que os computadores permitem, mesmo que de forma virtual, recuperar essa memória. Foi isso que me levou, uma noite destas, ao recinto do RRV, para uma conversa com um dos responsáveis pelo projecto.Para Tpglourenco Forcella este novo RRV em SL, é o espaço ideal "para fazer o que fazia o antigo, agora usando os meios que a Internet coloca ao dispor das
bandas para se promoverem virtualmente". Aquilo que começou por ser pequena brincadeira tornou-se, em pouco tempo, na vontade de devolver o ritmo ao RRV. Reconstruído na perfeição, com fotos de Jorge Palma numa parede, António Variações noutra, os UHF e mais memórias, este RRV espera ser o primeiro palco para bandas portuguesas aceitando o desafio, já aceite por outras, de usar a Internet e sobretudo o Second Life, para se darem a conhecer. É verdade que a lotação deste RRV é inferior à do original, que levava um milhar de espectadores (e muitas vezes quase outro tanto à porta...), mas a experiência de concertos em SL tem provado que vale a pena explorar o potencial promocional dos eventos de música ali realizados.Recordar os anos 80As primeiras sessões de música realizadas no RRV de SL, com música gravada de bandas portuguesas dos anos 80, serviram para atrair, ainda na fase de pré-abertura, um público que reconhece no espaço o original por onde passou. Tpglourenco Forcella
diz que as reacções ao realismo do espaço "têm sido fantásticas". De repente é possível pensar em "recordar o primeiro beijo, a primeira música escutada, se calhar até de gente que se conheceu aqui e acabou por ficar junta, fazer amizades ou mesmo mais".É disso que esta recriação trata: de recuperar uma memória. E para tal, a par com as bandas novas, que podem contactar o avatar dentro de SL, para proporem uma sessão no RRV, Tpglourenco Forcella diz que gostavam de poder levar ao local "os antigos, de Jorge Palma aos GNR, numa experiência que seria enriquecedora para todos" e provaria as capacidades de projectos deste tipo, que pretendem ir além do que muitos parecem achar ser Second Life.O entusiasta do RRV não está sozinho. Formou a TLS, uma produtora de conteúdos para SL, empresa do mundo virtual participada com mais dois sócios. Um deles, Latika Kuhn, entra no RRV. A figura feminina, que encontrara num fundo marinho em Cascais semanas antes, a tratar de peixes virtuais
naquele simulador, está tão entusiasmada com o RRV como Tpglourenco Forcella. Pretendem mesmo encher o espaço de sons, com a vantagem de agora, diz-me TPGlourenco, os vizinhos não se queixarem do barulho.Esta paixão tem significado noites de três horas dormidas, e muitos contactos para consolidar o projecto. Latika Kuhn diz que estão em contacto com uma produtora, tentando encontrar forma de garantir que as portas deste RRV de SL não fecham, como sucedeu ao da vida real. Mas enquanto isso não ganha forma, algum do tempo em SL é aproveitado a descobrir o que outros fazem. E o convite de Latika Khun é irrecusável. Abandonando o silêncio, ainda, de RRV, partimos para uma noite de bailado num outro simulador de Second Life. São os sinais evidentes de que a cultura respira ali.O RRV, esse abre por estes dias. Visite-o e recorde os anos 80.
In Expresso, 8/12/2007
1 commentaire:
Sim, sim, que saudades.
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