
A morte de Adriano teria sido sempre precoce. Mas foi-o ainda mais quando não lhe permitiu ultrapassar as quatro décadas de vida. " Era o melhor de nós todos, dizia Fausto. Apesar da afirmação, a verdade é que as suas canções cairam no esquecimento e para toda uma geração de músicos e de público, ficaram trancadas numa memória longínqua. Passaram a ser apenas um murmúrio. A distância de uma mão e ainda assim inacessíveis. Adriano ficou preso ao 25 de Abril e só aqueles que viveram com consciência esse período guardaram uma imagem do homem generoso que nunca se furtava a tocar no lugar mais improvável do país. Onde houvesse gente que o quisesse ouvir, ele estava lá.
Adriano Aqui e Agora - cujo título se inspira no marcante disco que Adriano lançou em 1971 e que constituiu um dos quatro álbuns do "Outono mágico de 71" (a par de lançamentos de José Afonso, José Mário Branco e Sérgio Godinho) - tenta repor a justiça. Tenta lembrar pela mão de músicos de hoje (que em alguns casos nem eram sequer nascidos quando Adriano morreu, há 25 anos) a urgência e premência das suas canções. Tenta recordar que houve um homem que marcou a música portuguesa e que a música portuguesa votou a uma estranha e inexplicável amnésia. E mostra sobretudo o resultado da admiração profunda de músicos que raramente conheciam a fundo a obra de Adriano. Só por isso, pela descoberta provocada em todos estes nomes e rendição imediata àquela voz imponente já valeria a pena. A isso acresce o prazer de saber que, a partir deste momento, terminado o disco e dado a escutar, essa descoberta se multiplicará e cumprirá finalmente o seu propósito: o de ressoar sempre e garantir que a frase batida de que a obra sobrevive ao artista é mais do que uma ideia romântica que gostamos de alimentar. Se as nossas mãos pouco puderam fazer para evitar o fim precoce de Adriano, cabe-lhes agora a justiça de lhe emitir um passaporte para a eternidade."
Gonçalo Frota
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