5 janv. 2008

Vírus


O buraco de ozono está nos versos
há um rio poluído um efizema
a cidade morrendo-se e dois terços
da humanidade fora do poema.

Há um vírus nas sílabas de abril
um tóxico no ritmo e na palavra
há pássaros que trazem Chernobyl
e já não fala a água que falava.

Na terzza rima alteração genética
há uma aranha a cantar de cotovia
de pernas para o ar Hegel e a estética.

Eis o inferno. E já não há Virgílio
para guiar-me a um reino de harmonia.
Por isso o meu cantar é outro exílio.

Manuel Alegre, in 30 Anos de Poesía - Publicações Dom Quixote

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